Identificação de corpo carbonizado pela análise do DNA extraído de amostra de tecido

Autores

Jobim L.F.; Fernandes, L.; Brandelli, K.; Gamio, F.; Jobim M.R. In: Jobim, L.F. Identificação Humana. Porto Alegre : Sagra Luzzato, 1999. 392 p. (Tratado de Perícias Criminalistas.)

Introdução

Um fazendeiro desapareceu misteriosamente em Alagoas. Dias após, foi descoberto seu carro totalmente queimado e com um corpo carbonizado na mala. Na mesma época um outro indivíduo, comprador de gado, também desapareceu, após um encontro com o fazendeiro. Sua esposa entrou em contato com a polícia declarando o acontecido. Era fundamental a identificação do cadáver, pois poderiam estar frente a um sequestro seguido de morte ou de um crime, tendo como vítima o comprador de gado.

Material e Métodos

Amostras de material carbonizado (músculo e ossos) foram enviadas ao nosso Laboratório, além de amostras de sangue com EDTA da esposa e filho do comprador de gado. Extraímos o DNA por intermédio da técnica de Chelex a 5 %. Amplificamos diversas regiões de microsatélites do DNA (Short Tanden Repeats STRs) com primers específicos, marcados com CY5. Utilizamos um sequenciador de DNA (Alpha Express – Pharmacia Ltd, Suécia). Por intermédio de raios laser, esse aparelho identifica cada fragmento (alelo) amplificado de DNA, por sua marcação com o marcador CY5. Os resultados são expressos em forma de gráficos onde picos correspondem aos alelos ou bandas de DNA, sendo que definimos, por comparação, o tamanho de cada fragmento pela amplificação de uma escada alélica sequenciada (ladder).

Resultados

Podemos observar que o filho apresenta alelos de origem materna e, sendo assim, todos os demais alelos são obrigatoriamente de origem paterna. Nos gráficos, observam-se curvas que representam os alelos de DNA dos participantes da perícia. Pode-se observar os alelos da mãe na linha superior, os do filho no meio e os da vítima em baixo. As curvas com estrelas (escada alélica) representam todos os alelos possíveis no loco estudado. A análise das curvas ou alelos de DNA é realizada automaticamente, mas pode-se observar que o filho sempre apresenta curva existente na mãe e outra existente na vítima. Alguns alelos apresentam-se em homozigose. Esses são representados com somente um alelo, pois o indivíduo recebeu o mesmo de sua mãe, como de seu pai biológico. O DNA extraído de pedaço de tecido da vítima apresenta todos os alelos de origem paterna do filho do comprador de gado. A sonda que define o locos Amelogenina, identificou que a vítima era do sexo masculino, pois encontramos os alelos de 106 e 112 pares de base. As mulheres apresentam somente o alelo de 106 pares de base, como pode-se observar no resultado de mãe (veja no gráfico da amelogenina). A vítima não é excluída de ser o pai biológico do filho do comprador de gado desaparecido. Os resultados acima obtidos pela análise genética chegam a uma probabilidade positiva cumulativa de paternidade de 99,999 %. O índice de paternidade foi de 159.331.

Resultado da análise de microssatélites do DNA em caso de estupro

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