Imunodeficiência Primária Comum Variável

Dra. Mariana Jobim e Dr. Luiz Fernando Jobim

A Imunodeficiência Comum Variável é a mais frequente das imunodeficiências diagnosticadas especialmente em adultos, podendo também ocorrer desde a infância. Caracteriza-se por susceptibilidade a infeções respiratórias e intestinais, ocasionadas por diminuição dos anticorpos no sangue e secreções. Os pacientes tem frequentemente otites, amigdalites, sinusites, pneumonias e diarreia.

Os principais anticorpos ou também conhecidos como imunoglobulinas são:

IgG: esse é a imunoglobulina que tem maior concentração no sangue e é responsável por grande parte de nossas defesas contra as bactérias. Muitos dos pacientes sofrem com sua falta e o tratamento é o uso de imunoglobulina endovenosa. Esse medicamento é o que garante a saúde para quem não possui a IgG, sendo que no interior dos frascos temos praticamente só a IgG de milhares de doadores voluntários. Eles doam o plasma (parte líquida do sangue) e a indústria concentra a IgG em frascos para serem distribuídos entre os pacientes.

IgA: essa é imunoglobulina ou anticorpo que protege os organismos ao nível das mucosas e das secreções. A mucosa do aparelho digestivo é atapetada por uma fina camada de IgA. Ela é a nossa proteção contra os parasitas intestinais e bactérias que ingerimos na alimentação. As pessoas que não possuem a IgA sofrem com infecções dos intestinos, dos brônquios, seios da face e ouvidos que são os locais protegidos pelas mucosas. A imunoglobulina endovenosa não tem a IgA, logo os pacientes em tratamento continuam sofrendo de infecções nas mucosas. Por isso que devem tomar remédios para alguns parasitas intestinais como a giárdia a cada seis meses.

IgM: essa imunoglobulina é produzida logo que um agente infecciosos penetra no organismo. Ela tem importante função da destruição desses microrganismos. Também não está presente na imunoglobulina endovenosa, logo se o paciente tem pouca IgM, essa não irá aumentar com o uso de imunoglobulina endovenosa.

IgE: essa é a imunoglobulina que protege contra parasitas e é a responsável pelas alergias. Logo, ela tem um papel de proteção, mas pode também causar problemas alérgicos em algumas pessoas predispostas geneticamente às alergias.

A imunodeficiência comum variável não é uma única doença. São várias doenças com genéticas diversas, mas que se apresentam da mesma maneira. O seja, os sintomas são os mesmos! A causa exata dessas deficiências não é conhecida na maioria das vezes.

Os microrganismos (bactérias) mais frequentes são os que causam infecções dos seios da face e pulmões, sendo bem conhecidos de todos nós e podem causar pneumonias (Hemofilus, pneumococo e estafilococo).

O propósito do tratamento das infecções pulmonares é prevenir a recorrência que acompanha o dano crônico e progressivo do tecido pulmonar. A tosse diária que acontece pela manhã, acompanhada de secreção amarela ou esverdeada sugerem bronquiectasias.

As bronquiectasias são problemas que muitos imunodeficientes enfrentam. Elas são dilatações dos brônquios e que acumulam secreções (catarro). Nessas secreções as bactérias multiplicam-se, causando tosse e destruição lenta do tecido pulmonar. Para combater esse problema o paciente deve fazer a fisioterapia respiratória para retirar o catarro dos pulmões, esvaziando essas dilatações.

Os pacientes podem também desenvolver gânglios linfáticos aumentados de tamanho do pescoço, pulmão e abdômen. Alguns tem aumento do baço que é órgão que fica abaixo do coração dentro do abdome. Outros tem aumento do numero de linfócitos na parede do intestino (placas de Peyer).

Alguns pacientes podem ter diminuição das plaquetas e anemia por destruição dessas células pelos poucos anticorpos que eles formam (autoanticorpos). Alguns tem artrite e poliartrites das articulações maiores, sendo que costumam melhorar com o tratamento com a imunoglobulina endovenosa.

As dificuldades intestinais são dor, gases, náusea, diarréia e perda de peso. A presença de gordura nas fezes demonstra a mal absorção de gordura pelo intestino. Na maioria dos pacientes, o parasita Giardia lamblia é o responsável pelas manifestações intestinais, impedindo a absorção de gordura. Esses parasitas não são os únicos, existindo outros mais agressivos ao intestino.

O tratamento dos parasitas deve ser incentivado, sendo que muitas vezes deve ser estendido aos familiares, pois a reinfecção pode ocorrer. Lavar bem as mãos antes de preparar os alimentos.

Alguns pacientes com imunodeficiência comum variável podem desenvolver câncer do tecido linfoide e do estomago. Devemos realizar endoscopia frequentemente nesses pacientes.

Os pacientes não costumam produzir anticorpos contra as vacinas, sendo que podemos usar esse conhecimento para conhecer a doença. Ou seja, podemos observar na avaliação inicial a falta de produção de anticorpos contra o vírus da rubéola, da hepatite A, de pneumococos e tétano. Isso pode indicar a possibilidade de existir uma imujnodeficiência.

Os pacientes costumam ter os linfócitos B que são as células produtoras de anticorpos em número normal, ou seja, possuem as células, mas essas não funcionam adequadamente.

Recomendações Importantes para os Pacientes

  1. Iniciar com imunoglobulina endovenosa mensal na dosagem de 400 mg/kg de peso. Caso o paciente tenha bronquiectasias usar 600 mg/kg. A concentração ideal de IgG no sangue antes de uma infusão não deve ser inferior a 700 mg/dl
  2. Existem atualmente a imunoglobulina subcutânea que é apropriada para crianças e pessoas com difícil acesso vascular
  3. No caso de faltar a imunoglobulina, os pacientes podem fazer antibiótico preventivo
  4. Realizar tratamento para Giardíase a cada 6 meses
  5. Fazer fisioterapia respiratória diária para os pacientes com bronquiectasias
  6. Endoscopia digestiva a cada dois a quatro anos

Tratamento Parasitas Intestinais (usar um desses medicamentos a cada 6 meses)

Metronidazol 250 mg de 8/8 horas por 5 dias. Trata somente a Giardíase

Suspensão oral (benzilmetronidazol 40 mg/ml)
Crianças até 5 anos: 5 ml duas vezes ao dia por 5 dias
Crianças de 5 a 10 anos: 5 ml três vezes ao dia por 5 dias

Importante: Não usar álcool durante o tratamento com metronidazol

Albendazol 400 mg por dia por 5 dias. Existe suspenção oral (Medley) com 40 mg/ml (crianças usar 10 ml por dia (400 mg) – 5 dias. Serve para tratar a giardíase e outros parasitas

Anita 500 mg. Trata diversos agentes infecciosos

Anita Suspensão